Rebirth of Shadows Tour, cientificamente falando — Bogotá

Gracielle Higino
5 min readSep 15, 2018
Seis marrentos no meio do mato. (Imagem: Divulgação)

Em agosto de 2018 o projeto Rebirth of Shadows criou asinhas e começou a parte internacional da turnê pela Colômbia. Até outubro, eles passarão ainda pela Espanha, Bélgica, Itália e Japão. Apesar de ser frequentadora assídua dos shows da RoS Tour, dessa vez não poderei acompanhá-los fisicamente, mas, sabe como é:

Acontece que eles vão passar por lugares MUITO legais do ponto de vista da ciência. São locais com muitas espécies diferentes, ou com características geológicas curiosas, com uma história ecológica/evolutiva muito doida… Então eu resolvi pegar carona nessa turnê e fazer uma série de textos pra mostrar algumas dessas coisas legais. Vamos lá?

Bogotá

Bogotá é uma cidade da Colômbia, um país que fica a noroeste do Brasil. A Cordilheira dos Andes corta o país ao meio, um prato cheio para os cientistas. Tanto que Humboldt e Bonpland visitaram a cidade em 1801, e aqueles dois não davam ponto sem nó. Ela fica no meio de uma savana, a 2640 metros de altitude, do lado oriental dos Andes. O que me fez lembrar imediatamente de duas coisas: viagens no tempo e beija-flores.

Viagens no tempo

Em uma das minhas viagens, tive a sorte de pegar um avião com aquelas TVzinhas com uma programação muito boa. Tinha a opção de ver um episódio da série Genius, com Stephen Hawking, e esse episódio era sobre viagens no tempo. Ele começa explicando as dimensões:

“Antes de Einstein, o tempo e o espaço eram vistos como coisas completamente diferentes. O espaço era visto como um grande contêiner, segurando os objetos e os eventos, enquanto o tempo era um fluxo universal, carregando tudo do presente para o futuro. Einstein apresentou uma visão completamente diferente do espaço e do tempo: eles não eram independentes um do outro, mas aspectos de uma mesma coisa. Um ‘tecido’ único de espaço-tempo.”
— Greg Radick

O episódio explica como o espaço-tempo se deforma com a massa dos objetos, e como os outros objetos seguem sua rota nesta malha deformada (enquanto também deforma a malha em volta de si). É esse fenômeno que cria a gravidade.

A massa deforma o espaço-tempo, e os objetos percorrem uma rota “deformada” ao redor uns dos outros. Fonte.

Perceba na animação acima que quanto maior a massa e quanto mais próximo do objeto, mais deformada fica a malha do espaço-tempo. Isso ilustra como o tempo se comporta de formas diferentes em diferentes pontos desta malha.

“Então o tempo passa em velocidades diferentes, dependendo de quão forte é a gravidade.”
— S. Hawking

Uma analogia que pode ajudar a entender como o tempo passa de forma diferente é a seguinte: imagine que estamos, eu e você, andando de bicicleta em volta de algum objeto. Se eu fico mais próxima a ele, eu completo as voltas muito mais rápido que você, que está mais distante. No entanto, para que possamos completar as voltas ao mesmo tempo, você tem que andar muito mais rápido, ou eu andar muito mais devagar, concorda?

No topo de uma montanha, mais distante da massa da Terra, a gravidade é (leeevemeeente) menor. Em um experimento do documentário, os participantes são separados em dois grupos e recebem dois relógios atômicos: um fica com um dos participantes ao pé de uma região montanhosa, e o outro sobe com os outros dois para o ponto mais alto. Ao fim de 24 horas, eles se encontram e comparam os relógios: o que ficou no alto da montanha estava 20.485 nanossegundos à frente do que tinha ficado lá embaixo!

Foi assim que eu lancei essa pro Diogo (esse do meme ali em cima): “cara, o tempo aí tá passando mais rápido! 😮”. Ele ficou o quê? CHO-CA-DA!

Foto do Diogo, nos Andes! 😍

Beija-flores

A outra coisa que me faz lembrar os Andes é a diversidade incrível de beija-flores que existe na Colômbia (não necessariamente em Bogotá). Os beija-flores são aves de uma família que chamamos de Trochilidae. São bastante conhecidos por seus bicos adaptados em diversas formas, mas quase sempre bastante alongados e finos, que se encaixam nas flores e permitem que eles se alimentem de néctar. Alguns são tão pequenos que são confundidos com besouros, seus principais concorrentes na hora da comida.

Eriocnemis vestita (Lesson, 1839). © Rodrigo Gaviria Obregón em Cornell Lab.

Esses animaizinhos lindinhos hoje só ocorrem na América e EXPLODIRAM quando chegaram aqui na América do Sul! A grande diversificação deste grupo provavelmente coincide com o soerguimento da cordilheira dos Andes, e é lá onde estão 40% das espécies de beija-flores, o que é muito doido porque a disponibilidade de oxigênio lá em cima é menor, e estas aves têm um metabolismo muito rápido. E os bichos ainda estão se diversificando! A cordilheira oferece uma variedade enorme de lugares diferentes para explorar, e isso favorece o surgimento de novas espécies. Essa riqueza de espécies de beija-flores parece ser bem conhecida pela população, e na região de Bogotá tem até santuários e observatórios dedicados somente aos beija-flores.

E como disse Charles Darwin, juntando física e evolução numa linda frase:

“(…) enquanto este planeta segue girando conforme as leis da gravidade, as mais belas e maravilhosas formas orgânicas evoluíram e continuam a evoluir (...).”

Saca só como foi o passeio dos caras em Bogotá:

Próxima parada: Espanha!

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