Agradecimentos da tese — pt 4

Final?

Gracielle Higino
4 min readDec 31, 2020

Este ano os agradecimentos demoraram mais pra sair, como todo o resto neste ano. Não por falta do que agradecer, talvez por coisas demais, mas acima de tudo porque, assim como você, estou cansada. Também porque escrever textos exige um esforço para encontrar sentido e conectar ideias, coisa que tem custado muito mais a cada dia. No fundo, acho que a resistência vem mesmo do fato de que esta é a quarta e última parte de uma série de agradecimentos que começou em 2017, e que simboliza o final de uma etapa.

Em algumas semanas o meu doutoramento será finalizado, e idependentemente de eu receber o título ou não, os agradecimentos são os mesmos. Como eu escrevi em todas as partes, tudo pode acontecer até o final de um doutorado, inclusive o não-final. Tudo pode dar errado nestas próximas semanas, mas eu sei que mesmo neste caso esses quatro anos não foram vividos de maneira leviana, que meu aprendizado e prática da ciência foram significativos, e que hoje eu me reconheço como uma cientista completa (no sentido de ter experimentado as tarefas essenciais que um cientista deve exercer e ter sido feliz nesta experiência), mesmo que as instituições entendam que não.

Desta vez quero começar pelo meu time titular: minha família. Foi um ano que começou com a expectativa de nos vermos novamente, expectativa que foi transformada em adiamento indefinido por diversos motivos, mas acima de tudo por amor. Nada seria possível se não fossem eles. Uma cartinha da mamãe, que este ano perdeu a vergonha de mandar áudios, com palavras quentinhas no meio do inverno, uma ligação do papai querendo saber se eu estou comendo direitinho, uma videochamada com os irmãos, meus heróis, com nenhuma possibilidade de conversa séria. Por todo o apoio, por acreditarem em mim mais que eu mesma, por aguentarem a saudade apertadinha por mais tempo do que eu prometi: amo vocês!

O PoisotLab este ano passou por maus bocados, mas apesar de tudo conseguimos nos manter unidos. Minha mais profunda gratidão à dupla dinâmica Gab e Francis, que embarcam nos meus planos malucos; à Norma, com quem exercito habilidades complexas de conversar em quatro idiomas ao mesmo tempo; ao Andrew, que foi meu parceiro de Skype A Scientist, de frustração com a academia, agitador de comunidades como eu; à Mathilde, Eva, Kiri, e Tanya, cientistas exemplares e inspiradoras; e ao Tim — é impossível sintetizar minha admiração por este grande mentor e minha gratidão por todas as brigas que comprou comigo.

A personagem nova deste ano tem dois nomes próprios: Marcio Rodrigo. Eu me surpreendi com o apoio que ele me deu nos momentos mais difíceis, com o quanto ele acreditou no meu potencial quando eu duvidei, e como ficou absolutamente impossível, por causa dele, passar um único dia de mau-humor. No meio de uma pandemia. No último ano do doutorado. Metade das coisas que eu aprendi este ano foram por causa dele. Atingimos a marca de 100 filmes e finalmente vi A Viagem de Chihiro por causa dele. Aprendi a montar um RetroPie, como funcionam as madeiras e as coisas de madeira, aprendi diversas coisas sobre diversas outras coisas, sobre arte, literatura, história, geografia, idiomas. O moço é inquieto, tem sempre uma pulga atrás da orelha, e faz todo mundo ficar intrigado com o mundo também. Infelizmente ele também me pergunta todo dia se eu comecei o terceiro capítulo. Obrigada por isso também. [=

O pelotão da base também teve seu destaque este ano: Maria Letícia, Ruana, Roberto, Igor, Guidoni, Fabio, Luciano, Paola, Alisson, Diogo, pixel, Isabela, Pablo, Gaio — como vocês me aguentaram? Obrigada pelos puxões de orelha, pelas mensagens despretensiosas, por me lembrarem que tem mais na vida além de um livro que eu estou me esforçando tanto pra escrever, mas que ninguém vai ler. Menos o Luciano, o Luciano vive pra me puxar a orelha e perguntar como vai a tese. Obrigada também, Lulu ❤

As comunidades, como elas foram importantes este ano! LEQ, Mozilla (principalmente o time INCRÍVEL do MozFest!), Skype A Scientist, Letters to a PreScientist, BIOS2: alguns dos momentos mais felizes que tive este ano foram com estas comunidades. Fazer parte delas é uma experiência maravilhosa e enriquecedora. Sou muitíssmo sortuda por encontrar pessoas tão boas de todas as partes do mundo, tão empenhadas em fazer um bocadinho para o mundo não ser tão chato o tempo inteiro. Meu agradecimento especial às crianças e adolescentes com quem eu conversei nas aulas do Skype A Scientist e à Victória, minha primeira parceira de cartas sobre ciências.

As coisas que deram certo este ano também têm dedo do José Alexandre, Thiago, Diane, Laura, Chris, Tainá, Cauay, Savio. Divulgadores de ciência, profissionais de saúde, professores e alunos que pagaram um preço altíssimo para manter o mínimo de funcionamento no mundo. Você, que ficou em casa e está até hoje lavando as mãos e mantendo distância das pessoas. Muito, muito obrigada!

Quero que vocês saibam que eu dei o meu melhor nestes quatro anos e que eu fui muito feliz, apesar de tudo. Aprendi muito, realizei meus sonhos, não desisti nos maiores desafios, não tive vergonha de recomeçar quantas vezes fossem necessárias — e, olha, foram MUITAS VEZES. Pode ser que isso não seja o suficiente aos olhos do sistema ao qual estou submetida, e com certeza minhas escolhas farão os próximos anos serem muito mais difíceis do que nós gostaríamos, mas nada disso me abaterá se aos seus olhos eu tiver cumprido a minha missão. Eu nunca esquecerei de vocês.

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